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ultima ceia

Como você sabe sou uma apaixonada por Astrologia. Desde o primeiro momento que tomei contato com ela algo em mim se iluminou. A possibilidade de estudar algo para o resto da minha vida faz meu coração geminiano feliz e realizado. Há quase 30 anos estudo e pratico Astrologia. Atendo, leio e pesquiso.

Já estava em meus planos para 2020, começar a escrever.  A chegada da nova década e os movimentos planetários prenunciavam grandes mudanças e eu queria estar alinhada a elas. O que eu previa ser um forte abalo econômico e social se transformou, no entanto, nesta traumática experiencia a que estamos todos submetidos. E a escrita começou a ser meu canal de expressão e a possibilidade real de me aproximar de meus amigos, meus clientes e minha família distante.

Divido com vocês agora o que me ocupou boa parte das últimas semanas. Em busca de compreensão e inspiração para o momento atual, cheguei ao Renascimento. Começo com  um breve resumo do contexto histórico no qual a Última Ceia foi pintada e a ligação de Da Vinci com a Astrologia.

Leonardo Da Vinci

Leonardo nasceu em 15 de Abril de 1452 em Florença. No calendário atual esta data corresponde a 23 de Abril. Taurino portanto. Aos 15 anos tornou-se discípulo de Verrochio, considerado o “mestre da luz e sombra”. Leonardo herdou do seu primeiro professor também uma obsessão pelo conhecimento de anatomia e expressão emocional dos personagens de sua pintura. Em busca da integração perfeita entre interno e externo estudou exaustivamente como os músculos se contraem em determinadas posições e expressões emocionais a fim de desenhar o que pretendia transmitir em suas obras. Leonardo foi fiel à máxima renascentista de integrar estudo científico à arte.

Chegou em Milão em 1482 apadrinhado por Ludovico Sforza.  Sua atividade artística ganhou um novo rumo, pois Leonardo se viu também diante de questões do cotidiano para as quais buscava soluções práticas e engenhosas. De planejamento de sistema de esgotos a inventos bélicos, alcançou assim importância militar e com isso uma certa proteção extra do estado. Pode então ousar e colocar parte dos seus conhecimentos astrológicos, ainda que de forma cifrada, na sua obra. A Última Ceia foi pintada na parede do Refeitório do convento dominicano de Santa Maria Della Grazie.

Antes de Da Vinci muitos pintaram a cena da última ceia. Em geral, retratando Judas já como traidor. Leonardo inovou ao escolher o momento em que Jesus anuncia a traição sem revelar o autor. Da Vinci trocou o momento da definição pelo da dúvida, aumentando com isso o potencial dramático da cena, e a possibilidade de explorar seus conhecimentos sobre comportamento humano e técnicas de representação. Ele confere igual força dramática aos doze apóstolos, evidenciando a reação e o comportamento de cada um frente ao susto e a ameaça de ser acusado e à possibilidade de perder o mestre.

Por ocasião da pintura da ceia Sforza contratou Luca Pacioli, matemático e astrólogo. Ele se mudou para Milão para assumir o posto de colaborador de Da Vinci. Luca aprendeu Astrologia no cativeiro árabe durante as Cruzadas e era conhecido por suas precisas análises astrológicas. Há uma simetria precisa e formal na composição. Os apóstolos estão divididos em quatro grupos representando os quatro quadrantes do zodíaco.

Á escolha da ceia para transmitir o conhecimento astrológico se liga ao fato de que a cena se refere à comemoração judaica na primeira lua cheia de Nisan, o mês de Áries. Leonardo, coerente com seu estilo de escrever da direita para a esquerda colocou os apóstolos nessa ordem.

Segue um resumo de cada signo e do apóstolo correspondente! Leia e inspire-se no seu, mas não deixe de conferir os outros! Os arquétipos dos signos trazem inúmeras possibilidades de compreensão sobre a natureza e as relações humanas, eles estão todos contidos em cada um de nós e em todos os que nos rodeiam.

Espero que goste e aproveite!

Meu texto  foi inspirado na obra Luz e Sombra de Dona Emma Costet de Mascheville e no livro escrito por Pedro Tornaghi – Leonardo Astrólogo  – O Jogo de Símbolos na Santa Ceia. Deste último selecionei alguns trechos ao fazer a descrição do signo.A Dona Emma e Pedro  toda a minha gratidão!

Agradeço ainda o carinho e atenção de Mariana Lanari que fez a revisão e à Juliana Reis pelo capricho no tratamento das imagens. Sem a ajuda delas esse trabalho seria impossível.

 

Simão – Áries

O IMPULSO INICIAL

O ariano é o semeador de idéias e implementador do novo.

No vigor da figura de Simão é visível a força e o impulso, característicos da energia ariana. É  por meio desta força que a semente brota do solo em direção à luz.

Posicionado na cabeceira, Simão apresenta a capacidade de liderança, a necessidade de independência e a competência para o comando. Da Vinci favoreceu Simão com o corpo mais parrudo dentre os apóstolos. Convicto e pleno de força física, é evidente a sua disponibilidade para a briga e o enfrentamento. É o corpo de alguém que não se entrega facilmente ao abatimento, desânimo ou cansaço. A postura dos braços e mãos, e a cabeça também adiantada à frente denuncia a presença de uma forte ansiedade. Ansiedade que nasce do medo do desconhecido e da necessidade de sucesso.

O olho-no-olho de Simão é de uma retidão perturbadora e evidência a disposição do ariano para a lealdade e a lisura. A lealdade é um traço frequente também nos outros dois signos de fogo, Leão e Sagitário. As mãos avançadas e decididas demonstram atitude, opinião forte e liderança.

Simão era oriundo de uma agremiação de guerreiros voluntários. Como Áries simboliza o soldado que  confronta diretamente o inimigo e enfrenta de cara o problema, não é difícil imaginar porque Da Vinci atribuiu a ele o signo de Áries.

 

Judas Tadeu – Touro

A NATUREZA AFETIVA

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Em segundo lugar na mesa, Judas Tadeu representa Touro. Sua atitude cordial e receptiva encarna a vocação do signo para a fidelidade amistosa e sincera a um ideal e a uma liderança. O gesto de sua mão direita é uma espécie de cortesia a fim de embelezar e amenizar o que for inevitável, sugere também o formato de um cálice, símbolo universal de proteção e conservação.

A gentileza e simpatia de Tadeu vem do espírito cordato dos taurinos. A grande necessidade de amor dos taurinos estimula-os a se mostrarem atenciosos como Tadeu, com a expectativa de receberem atenção, o que não deixa de ser uma demonstração de amor. A vocação afetiva do taurino o faz cuidar dos que lhes são caros para que nada lhes falte. Os dois primeiros signos do zodíaco são movidos pelo que lhes é mais próximo. Para se dedicar a Simão, Tadeu expressa a vocação afetiva de Touro para cuidar dos problemas dos que lhe são próximos, ignorando causas maiores. Ele dá as costas não só ao Mestre como também a todos na mesa.

Touro teme o caos e convive com uma contradição difícil de solucionar: busca o prazer do contato, mas quer evitar a todo custo os sofrimentos inerentes a qualquer relação. Um eterno paradoxo entre afeto e segurança.  Entre a perícia de extrair e usufruir alegria da rotina e do que é conhecido e a dificuldade de lidar com a surpresa, o desconhecido e o caos. Para Tadeu é dilacerante saber que há um traidor entre os presentes.

O rosto largo e quadrado de Tadeu é traço de quem se move pela vida sem surtos aventureiros e ao compasso do instinto prático. Essa tipologia pertence a pessoas dadas ao fazer, mas com dificuldade de serem convencidas a mudar de idéia. O olhar observador e preocupado confirma nele a presença do estilo realizador, construtor e responsável do signo.

Tadeu significa grande coração, um indício da natureza afetiva e da capacidade acolhedora. Sua natureza afetiva é registrada no capítulo 14 do Evangelho de João. Nesta passagem, Jesus afirma haverem “muitas moradas na casa do Pai” e aponta caminhos distintos para os apóstolos chegarem

a ela. Para Tomé (Virgem) sugere o conhecimento, para Filipe (Câncer) a fé e para Tadeu o afeto sincero.

No dramático momento do discurso de despedida, Jesus não apenas indicava caminhos mas distribuía tarefas. A Tadeu coube a de registrar e imprimir no afetivo de todos a experiência e vivência do amor.

 

Mateus – Gêmeos

A INFORMAÇÃO E A TROCA

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O apóstolo que representa Gêmeos tem o rosto virado para a esquerda e os braços para a direita. Dá atenção a duas realidades ao mesmo tempo. Leonardo esbanja genialidade e talento ao lidar com a linguagem simbólica. Com um único gesto consegue captar e traduzir a complexidade e multiplicidade do temperamento geminiano.

Mateus olha em direção a Simão, reconhecendo sua liderança, mas dirige os braços para Cristo e o resto da mesa. Alerta Simão de que há outras interpretações para os fatos, não só a sua. Fica evidente a destreza em lidar com diferentes acontecimentos simultaneamente e subverter convicções arraigadas. Por outro lado, sugere dispersão, característica marcante dos signos de Ar em geral e de Gêmeos em particular.

Palavras não são apenas para descrever algo, servem para ativar, motivar e iniciar uma ação e para contagiar o outro. O geminiano reforça o significado das palavras com seus gestos, para acentuar a clareza da mensagem.

O rosto atencioso para um lado e as mãos abertas para o outro, mostram o quanto o geminiano é sociável, aberto, acessível, comunicativo, plural e amigável.

O ponto fraco de Gêmeos se revela quando ele, ao apontar para os dois lados dissipa suas forças. Mas também pode ser seu trunfo ao demonstrar a possibilidade de explorar vários recursos.

Faz parte da habilidade geminiana transitar entre universos conflitantes entre o divino e o humano. A postura dupla de Mateus sugere também sua versatilidade. Oscilando entre direita e esquerda ele  remete ao fato de que Gêmeos simboliza e expressa o movimento da vida. Na Astrologia, Gêmeos rege os braços – valorizados e expressivos na figura de Mateus.

O Evangelho de Mateus possui qualidade didática, atributo geminiano por excelência. Evangelho contém angel – é um derivado de anjo que significa o mensageiro entre o divino e o mundano. Angello significa anunciar – geminianos são os anunciadores do zodíaco.

 

Filipe – Câncer

A SENSIBILIDADE

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Ao levar as mãos ao peito Filipe evidência e enaltece a excepcional sensibilidade que transborda em sua postura corporal. O canceriano prioriza o sentir e deixa isso claro a todos que o cercam. Da Vinci retratou Filipe com uma fisionomia embevecida que  toca e envolve o sentimento do observador. O pescoço ligeiramente pendido para o lado tem sempre a intenção, consciente ou inconscientemente, de seduzir ou comover o outro. As mãos no peito enaltecem a emoção, a sensibilidade e a subjetividade.

Câncer busca sempre atrair a todos através do enfoque mais sentimental dos acontecimentos. Demonstra uma grande habilidade para reconhecer os sentimentos e reagir a eles. Filipe se mostra solícito, disponível e dedicado, expressando quase que uma preocupação e excesso de zelo pelo outro.

A intimidade sugere a capacidade da pessoa de se imaginar na pele do outro como demonstra Filipe ao tomar a dor do Cristo para si. Câncer deseja intimidade, mas também se defende dela. Filipe inclina-se de lado para o Cristo. É emblemático como o canceriano se aproxima das situações pelas laterais, como que rejeitando a intimidade que tanto busca. No fundo, é tímido e arisco.

A incidência de luz no rosto de Filipe cria a forma de uma Lua crescente e pode ser interpretada como uma alusão de Da Vinci às fases da Lua. Como a Lua, a pessoa de Câncer passa por marés altas e baixas de humor e disposição, que ficam evidentes para quem convive com elas. Sempre mudando de fase, frequentemente se sentem oscilantes, inconstantes e instáveis, o que provoca certa insegurança. Se você deseja viver harmoniosamente com um canceriano deve aprender a acompanhar suas fases, dualidades e variações.

Tiago Menor – Leão

A SINGULARIDADE E A PAIXÃO

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Tiago reage de maneira vigorosa e passional quando Cristo anuncia a traição. Sua figura se sobressai ao se posicionar de modo ardente e impetuoso. Leão é regido pelo Sol. Leoninos jamais se apresentam como fracos ou frágeis. Com as mãos abertas à frente ele demonstra otimismo, lealdade e coragem. A eloquência corporal de Tiago é capaz de monopolizar a energia dispersa do ambiente incitando os outros apóstolos a também colocarem o coração em cena como forma de superar o grande impasse do momento. O leonino, apenas com a sua presença, contamina e  inspira todos à sua volta com determinação, força, alegria e vivacidade.

O coração é o centro da vitalidade. Ao incidir luz no peito do apóstolo leonino, Da Vinci destaca e valoriza essa região.  A seiva da paixão que Leão traz no peito é a própria força da vida. Sua maneira acalorada de se posicionar pode parecer insensata e até perigosa, mas como tudo no leonino, tem um porquê. Sensatas ou não, as paixões o fazem se sentir mais vivo e o libertam da ditadura mesquinha do certo e errado. Tiago libera o magnetismo necessário para que os outros apóstolos possam sair da discussão mental para uma atitude mais imediata e efetiva.

A retórica dramática em que Tiago se aventura está de acordo com a natureza teatral do signo. Seu afã passional é o mesmo que cria no leonino a possibilidade de viver cada momento, triste ou alegre, de maneira especial sempre com intensidade e ardor.

Tiago parece tomar para si a ofensa dirigida ao Mestre. A auto referência é uma característica recorrente na personalidade leonina.

Sua postura retrata também a dificuldade desse signo em aceitar circunstâncias contrárias à sua vontade. Com o exagero no gestual ele reforça a relevância de sua opinião. Sua pouca receptividade para as opiniões alheias abre espaço para que ele tente impor a sua de forma imperativa.

Colocar-se como centro gera autoconfiança. Tiago acredita em si e apresenta-se afirmativo e de peito aberto. A indignação de seus braços sugere alguém possuído pela ilusão de que jamais seria contrariado. Ele reage como um leonino que passa por uma forte insegurança e tenta evitar com a imprevisibilidade. O frenesi emocional de Tiago reflete a dificuldade de interagir com o inusitado e mostra uma das principais estratégias leoninas. Para se defender da vulnerabilidade ele ataca. Fala para não ouvir. Tudo em nome da soberania pessoal. Tudo o que for necessário para evitar riscos. Tudo para sobreviver ao imponderável.

A figura de Tiago retrata o momento em que o maestro para os braços no ar antes de começar a reger, pedindo solenidade e silêncio para começar a sua atuação.  Nada melhor do que conduzir, orquestrar e ditar o que deve ser feito. A amplitude do seu gesto nos remete às qualidades leoninas de generosidade, otimismo e coragem. Leão prefere ver o que há de positivo e aproveitável em cada situação ao invés de apontar seus defeitos.

 

Tomé – Virgem

OS DETALHES E A PRECISÃO

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Tomé exibe a ponta do dedo para Cristo, para chamar a sua atenção sobre um pequeno detalhe. Sério, ele atenta para a gravidade de algo que passa despercebido aos demais.

Virgem é um signo minimalista e sensível às menores manifestações da natureza. Atento à delicadeza da vida que o cerca, é capaz de enxergar em acontecimentos mínimos grandes significados. A preocupação de Tomé com um pormenor reflete a índole cuidadosa e escrupulosa do signo. É notória a diferença de sua postura em relação a Bartolomeu que representa seu oposto, Peixes.

Virgem busca a lucidez. Tomé tenta instaurar alguma ordem possível em meio à balbúrdia. Ao se refugiar olhando a ponta de seu dedo ele evita sentir-se perdido em meio ao caos da mesa.

É impossível controlar a totalidade do universo, mas é possível considerar-se senhor de um pequeno espaço. O detalhe e a particularidade são esse território seguro.

Tomé exibe um espírito perspicaz, afiado e astuto, cem por cento no aqui e agora. O virginiano é por natureza atento e interessado no momento presente. O olhar concentrado no dedo revela alguém que toma conhecimento do fato e em seguida aponta e revela a essência do que observou.

Nativos de Virgem tem uma natural tendência à preocupação. O cenho concentrado, a testa projetada e o olhar circunspecto de Tomé são de alguém que está acostumado a se preocupar. A preocupação muitas vezes se torna um hábito do virginiano. O preço a pagar é um permanente estado de tensão que é comum a todos que têm uma ênfase virginiana em sua personalidade.

A comparação é uma constante manifestação de Virgem. Estabelecer relações, distinguir e separar são talentos naturais. Esses exercícios o levam a criar hierarquias e à ideia de haver coisas mais adequadas que outras a cada momento. Isto pode levar a conceitos rígidos e ao hábito de dividir tudo em categorias.

Virgem ambiciona sempre o resultado mais próximo possível do ideal. Enquanto Leão quer o melhor para si, Virgem evolui a ideia e não quer nada menos do que a perfeição.

A posição de Virgem no zodíaco nos permite decifrar algumas de suas características. Herda de Leão a necessidade de ser aceito e traz em si a semente do anseio por relações harmoniosas e o equilíbrio próprio de Libra.  Há sempre um esforço por encontrar a medida adequada em sua crítica, para não ser injusto e evitar conflitos desnecessários. Assim, entre o eu e o outro, é inclinado a comparar sempre sua realidade com o mundo que o cerca, com uma tendência a se subestimar e se diminuir. O sentimento de desvalorização pessoal pode virar um obstáculo para o seu sucesso e até um mecanismo de auto sabotagem.

Ao pintar Tomé, Da Vinci assumiu o desafio de representar todas as características do signo apenas na expressão do rosto e de uma das mãos. As mãos na Astrologia são regidas por Virgem. Também é coerente com o signo limitar-se ao estritamente necessário para chegar a um propósito e foi o que fez Da Vinci ao limitar-se a uma das mãos e ao rosto do apóstolo virginiano.

O hábito de comparar e julgar, cultiva dúvida, incerteza e insegurança. O espírito crítico pode ser usado de maneira construtiva, mas geralmente não é o que acontece. Dar demasiada importância ao que é negativo acaba levando ao ceticismo. O ceticismo estimula o medo e bloqueia a intimidade. Assumindo o espirito reticente do signo, Tomé está cismado e aflito.

O rosto iluminado e bem definido de Tomé comunica sua percepção e priorização do que é manifesto e evidente. Sua expressão objetiva espera uma resposta concreta para o que está acontecendo. Virgem como signo de Terra tem uma inclinação pragmática e soluções sensatas.

O senso prático próprio dos signos de Terra inclina o virginiano a ser metódico. Ao destacar um dedo para exibir ao Mestre, Tomé explicita o desejo de tratar de um assunto de cada vez. O virginiano prefere sempre resolver uma questão antes de entrar em outra.

O estilo prático e realista de Tomé revela a característica virginiana de camuflar sua metade emocional e deixar os sonhos e as fantasias para depois. Ele é cheio de fantasias e imaginação próprias da sua polaridade pisciana. Elas são mantidas em um lugar tão profundo que, em geral o virginiano se esquece delas.

Tomé ficou célebre por sua necessidade de ver para crer. Seu nome acabou virando sinônimo de ceticismo e descrença, mas também é símbolo de pragmatismo. Como adota um rumo apenas após muitos questionamentos, seu aval se torna uma espécie de selo de qualidade e uma prova de consistência.

 

João – Libra

A ARTE DE REFLETIR

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João, à direita do Cristo, cria para si uma espécie de isolamento frente à inquietação reinante na mesa. Ele parece refletir a fim de equilibrar o impulso arrojado e intempestivo do ariano Simão. Privilegiar o bom senso é a mensagem libriana.

João espera o tempo depurar a situação para então se posicionar. O libriano mede incansavelmente as circunstâncias que o envolvem e as possibilidades de sucesso de uma intervenção sua antes de agir. A palavra meditação vem de ‘medir a ação’. De olhos fechados João se dispõe apenas a sentir, ao contrário do resoluto Simão que do outro lado da mesa, quer partir logo para a ação.

Em contrapartida ao estilo ariano de fazer primeiro e pensar depois, Libra se dedica ao hábito de pensar primeiro e se manifestar depois. Às vezes esse depois nunca chega, pois ao farejar o perigo de reações adversas ou desagradáveis, a atitude é infinitamente adiada.

Visionário, Libra tem fama de bom planejador. Brilhante ao elaborar intenções, ele muitas vezes carece do arrojo necessário para transformar seus projetos em ações concretas. É um esforço para ele tirá-las do papel.

João escuta Pedro embevecido. Se satisfaz com as conjecturas filosóficas do representante de Sagitário.

A atitude adormecida de João resume a natureza contemplativa de Libra que muitas vezes se transforma em auto sabotagem. A tática de ficar quieto e imóvel possibilita passar despercebido e ampliar espaço para refletir e ponderar. Silenciar sobre os ‘insights’  advindos desta meditação, no entanto podem tornar a reflexão inútil.

Evitar o confronto direto é a arte de Libra. Por manipulação ou recurso de defesa e  sobrevivência, librianos geralmente recuam diante das asperezas e estridências da vida. De olhos fechados, se nega a enxergar o conflito. Cai para o lado para fugir do confronto. Não quer agravar a situação aflitiva. Libra cultiva o estilo de ocultar o que pensa para não ofender. Durante a vida, para escapar de desentendimentos, vai cedendo e muitas vezes deixa que o outro invada o seu território. Acuado e sem autonomia frequentemente se sente injustiçado.

A atenção de João com Pedro retrata a habilidade de bom ouvinte. O Libriano é a melhor pessoa para compartilhar uma preocupação. Dentre os apóstolos é o mais receptivo às idéias dos outros. Capazes de enxergar o mundo com os olhos alheios os librianos se tornam grandes conselheiros e hábeis em considerar os dois lados de qualquer questão.

O Libriano sente necessidade de alguém que o estimule. Curiosamente João busca apoio em Pedro, evitando Judas que embora esteja ao seu lado tem uma postura densa e desafiadora.

Libra sempre busca quem tem individualidade definida e posicionamento construtivo. Pedro,  representante do fogoso Sagitário, esbanja estas características. Ambos também representam os dois signos mais ligados à Justiça.

Harmonia e equilíbrio se expressam na figura de João na cena. Ao inclinar a cabeça para a direita faz contraponto com Cristo que pende a sua ligeiramente para a esquerda. Roupas semelhantes com cores invertidas e opostas simetricamente. Da Vinci os vestiu com o mesmo tipo de gola, são os únicos a usarem o xale enviesado e para completar a atitude invertida, enquanto Jesus abre as mãos e as expõe, João esconde as suas.

João compensa a inquietude generalizada com sua quietude particular. Ao perceber o desequilíbrio vindo do que está sendo anunciado à sua esquerda, ele pende o corpo para a direita a fim de buscar subjetivamente um prumo que compense a desordem objetiva a sua volta.

Libra sonha com um mundo onde tudo é belo.  João parece estar num mundo paralelo, distante dos assombros e incertezas dos outros apóstolos.

Como o Ar, elemento do signo, librianos são normalmente afeitos à delicadeza e à graça. Ao se fazer de distraído para não assumir a consciência da gravidade da questão, pode se ter a impressão que está insensível. Isto não é verdade, ele está sentindo tudo, mas apenas não tem condições de reagir. Está fragilizado e vulnerável. Sua sensibilidade afetiva está dolorida e ferida a um ponto além da sua capacidade de suportar.

O libriano não pretende ser inativo como aparenta estar João, mas sim ter uma ação não destrutiva. Na sua busca por paz ele quer saber se todos concordam antes de qualquer atitude. O ajuste dos relacionamentos é sua meta.

Libra está ligado à ideia de coordenação, mãos que se encontram, cooperação mútua. Os braços de João em círculo sinalizam os alicerces da vocação libriana de gerar o acordo entre as partes por meio da escuta, da inatividade e da delicadeza. As mãos aquecendo uma à outra representam hospitalidade e amparo. Libra sempre quer resolver tudo a partir da conversa. Deve porém aprender com Áries a tomar iniciativa quando escutar não for suficiente e a agir quando a concordância for improvável. O libriano sente prazer na elegância e acha que exprimir sua raiva pessoal nunca é conveniente.

O senso de coletividade faz dos librianos não só os melhores diplomatas, mas também os melhores generais. Escutam e pensam no outro e com isso desenvolvem excelentes estratégias. Têm noção privilegiada de espaço ao recuar para enxergar o todo.

Se afastam para recuperar, organizar e juntar forças. João ganha tempo para sentir a situação como um todo. Sua dificuldade em lidar com a agressividade acaba transformando-o em um mestre em lutar sem se expor. Como um comandante militar.

 

Judas Iscariotes – Escorpião

O SAL DA TERRA E A TRANSFORMAÇÃO

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O sal da Terra. O apóstolo que representa Escorpião é retratado por Da Vinci com um olhar denso e desafiador em direção ao Cristo, enquanto derruba o sal com seu braço direito.

O simbolismo do Sal é associado à Escorpião. Na antiguidade o sal era adicionado aos alimentos para conservá-los. Simboliza antes de tudo conservação, continuidade e perenidade. Derrubar o sal tem a ver com ruptura, descontinuidade, morte e transformação. Com seu gesto, Iscariotes põe em xeque a divindade de Cristo. Ele questiona o que é humano ou divino na lenda viva do seu Mestre.

Escorpião por sua vez é mestre em desmascarar aparências e trazer à tona a parte submersa da realidade.

A continuidade da vida depende de transformação e não de acomodação.

O domínio sobre os meios da vida e da morte é a busca básica da alquimia. Iscariotes, ao derrubar o sal, evidencia a íntima ligação de Escorpião com a morte e com o controle dos processos da vida. Derrubar o Sal significa contrapor-se à ordem estabelecida, quebrar estruturas e contestar a maneira como tudo se organiza.

As propriedades curativas do sal também servem como metáfora aos dons de regeneração de Escorpião.

O nativo do signo é pródigo e fluente na arte de reordenar, reestruturar, e reorganizar o que quer que esteja danificado. Escorpião é intenso. A figura de Judas representa isso. Você percebe uma revolução acontecendo em seu interior enquanto ele se mantém parado e impassível. Ele investiga o que está por trás do que Cristo expõe. Procurar saber além dos fatos é a dinâmica típica de Escorpião. Este sabe como ninguém penetrar no íntimo de seu interlocutor. A audácia com que penetra no âmago do outro provoca paixões ou ressentimentos sem meio-termo.

O dom de Escorpião de investigar o que está oculto vem da intensidade de sua observação. A agudeza do seu olhar é de uma personalidade que é capaz de sentir intensamente e fazer cada fibra do seu corpo ressoar com os fatos que observa.

A postura recuada e a mão direita fechada de Iscariotes sinalizam a forte tendência de Escorpião por um processo particular e privado de depurar experiências. Como a crisálida prestes a se tornar borboleta, quando em processo de metamorfose, ele não admite interferências. Ao segurar com tanta determinação o saco de trinta dinheiros, Iscariotes ressalta o quanto escorpião não mostra suas qualidades e riquezas. Os sentimentos são intensos, mas uma parte dele é inescrutável e insondável. A intensidade do Escorpião está ligada ao fervor da libido ao erotismo e à sexualidade. O instinto de amalgamar-se ao outro para gerar um novo ser estimula as habilidades psíquicas que permitem penetrar em intimidades sem precisar envolver-se fisicamente.

A mão esquerda de Judas Iscariotes, parece o rabo de um felino frente à ameaça. Escorpião gosta de viver sob pressão. O perigo o excita e ele se alimente de adrenalina. Há muitos escorpianos viciados em intensidade. Iscariotes se encolhe para estudar como responder ao que não tem resposta. Se ele realmente vendeu o Mestre, não há resposta e então ele se cala. E espera. Escorpião é assim quando está numa situação limite. Tira energia aparentemente do nada e exibe potencialidades latentes surpreendentes face à força oponente.

A inteligência de Escorpião é estimulada e aumentada em situações de pressão. É o que vive Iscariotes nesse momento, paralisado, encurralado e impossibilitado de reagir plenamente, mas vivendo grande ebulição interna.

A vida do Escorpião é se defrontar com os cortes e desfechos que ele mesmo produz, com ou sem intenção. Ele almeja a superação. Iscariotes conseguiu o desafio que queria. Agora resta saber como vencê-lo. As situações limite o obrigam criativamente a lançar mão de todos os seus recursos para encontrar uma solução.

Há Escorpiões que são como águias – voam alto e procuram enxergar de cima. Outros, tal qual serpentes, se enterram e conhecem o peso do mundo. A águia vive perto da luz e a serpente habita os locais escuros.

A águia representa a clareza mental e a serpente a instintiva. A maioria dos nativos do signo tem graus variados de ambos os tipos.

Iscariotes no quadro tem um lado iluminado e o outro na sombra. A mão esquerda, ligada ao instinto, está retesada e condizente com o olhar assustado. A direita, que representa o lado racional, se comprime. Ambas em posição de alerta anunciando o instintivo e racional igualmente acionados. Se a mão esquerda anuncia que ele não está receptivo, a direita confirma com o punho fechado que não está disponível para um aperto de mão, nem aberto a negociações. Repare que é a única mão fechada dentre todos os apóstolos. Sangue frio aliado à tenacidade habilita Escorpião a realizar o que ninguém mais é capaz de fazer.

O saco de trinta dinheiros na mão de Judas remete à vocação do signo para o poder. Dinheiro significa trocar algo abstrato por objetos concretos e palpáveis. Judas agarra o saco com a firmeza obstinada de quem sabe o que quer, mostrando ser uma pessoa de decisão concentrado em seu propósito. Escorpião tem essa capacidade de juntar suas forças mais legítimas para lutar pelo que quer. A decisão com que aperta a bolsa enfatiza o quanto Escorpião é aferrado a seus valores e princípios. Chega a ser tachado de obsessivo e fanático.

O Escorpião, quando se envolve, é de corpo e alma. O vínculo que ele estabelece com o que quer seja passa a ser mais importante e profundo que o objeto em si. Essa inteireza se traduz num sentimento de necessidade visceral que dá ao nativo de escorpião o poder de tornar possível o impossível.

A marca de Escorpião ninguém esquece. Escorpião é especialista em tomar atitudes incompreendidas e provocar repúdio. Esse repúdio faz parte de sua estratégia inconsciente para que o ato não caia no esquecimento. Você pode não saber muito bem o que cada um dos apóstolos fez, mas com certeza sabe o que fez Judas. Iscariotes com sua atitude extrema nos possibilita questionar a existência e a relatividade do bem e do mal.

 

Pedro – Sagitário

EVOLUÇÃO E EXPANSÃO

leonardo da vinci apostolos pedro sagitario

Representante de Sagitário, Pedro segura uma faca com a mão direita e aponta o Cristo com a esquerda. O contraste resume o simbolismo de Sagitário. A faca remete à sua ligação com os instintos mais primitivos e a mão em direção ao Cristo seu anseio por evoluir.

O centauro, símbolo do signo, pode ser afetivo e delicado em alguns momentos e em outros, bastante insensível. É capaz de mudar da doçura para a rudeza com rapidez. Pedro explica o que pretende para João de maneira afetiva e gentil, mas mantém a faca como símbolo da força, caso seus argumentos não convencem. O conflito das duas facetas, humana e animal, está sempre presente em Sagitário.

Sagitarianos não convivem bem com o que os contraria. Ao mesmo tempo, almejam o que há de mais elevado e têm dificuldade em expor suas falhas e inconsistências. Como nos signos de fogo, é orgulhoso e não quer que percebam suas falhas. Pedro exalta o homem-deus que ele é enquanto esconde seu lado potencialmente destrutivo inclusive de si próprio. A faca lembra que Sagitário é munido de uma força irracional, e é sempre possível para ele um rompante irrefletido e primitivo. No entanto, é desta porção inculta de sua personalidade que brotam soluções criativas e originais. Esse algo a mais que só ele é capaz de manifestar vem do instinto – sua porção selvagem que fareja e pressente.

Quando o centauro se sente fracionado entre o seu cérebro privilegiado e o instinto de suas ancas selvagens, ele no fundo, sabe que sua porção humana é mais insegura que a animal. Assim ele entende que quando se apoia no lado instintivo ganha autoconfiança e quando se alicerça no intelecto experimenta uma dúvida infindável. A faca pronta para o bote representa a ânsia de superar o que for necessário para alcançar o alvo que a outra mão aponta. Virada para trás, ela comunica a intenção de se livrar do passado. Sagitário julga que o que é menos nobre em si, ou o que não gosta, pode ser deixado para trás para descomplicar seu galope rumo ao futuro.

Zeus, Júpiter na mitologia grega, foi um deus que escapou do tempo. Seu pai Cronos (Saturno), senhor do tempo comia seus filhos recém-nascidos, assim como o tempo consome aquilo que gera, Zeus não teve esta sina. Sagitário, regido por Júpiter, quer escapar da ditadura do presente e do passado lançando-se sempre para o futuro.

A faca disfarçada também lembra que Sagitário sempre tem alguma carta escondida na manga. A faca é a potencialidade escondida. Pedro está convencido de uma solução através de Cristo, mas se esta não funcionar ele pode resolver o assunto à sua maneira.

Os dedos de Pedro apontados para o alto traduzem otimismo. A faca na mão direita sugere que ele nota a presença do ‘mal’, mas sua postura voltada para Cristo indica que ele prefere pensar e discutir apenas o ‘bem’. É assim que otimistas se comportam – negam os sinais preocupantes e escondem a agressividade.

A fim de reforçar sua vocação para o positivo e desconsiderar o destrutivo, Pedro ignora Iscariotes e se aproxima de João. Demonstra assim a tendência de ver apenas o lado bom da situação. E só quer saber do que pode dar certo.

Zeus era o árbitro supremo no Olimpo. Por inspiração divina ou obrigação auto imposta se sente no  direito de fazer justiça com as próprias mãos.

O indicador esticado, com os outros dedos reforçando seu movimento desenha o perfil de alguém que é sempre superlativo em seus argumentos. Júpiter seu regente é um planeta incomum – emite mais energia do que recebe. Pode ser uma estrela em formação e às vezes é chamado de segundo sol no sistema solar. A maneira como ele se doa a João inclinando-se por inteiro denota generosidade sem espera de recompensa. A postura também evidencia a dificuldade de receber. Doar é quase uma necessidade para quem, como Sagitário, tem energia em excesso.

Zeus era o começo e fim de todas as coisas. Suas decisões eram irrevogáveis. É natural imaginar que a seus representantes sagitarianos sobre uma certa prepotência.

Pedro não está confortável com o tumulto da mesa. Sagitarianos sentem agonia diante de questões não resolvidas, ao mesmo tempo, preferem não discutir problemas. Uma solução única que resolva todos os problemas independentes de quais sejam é o ideal sagitariano.

Ao apontar o Cristo ele parece dizer que nele está a chave para todas as questões. Mas o próprio Cristo adverte – Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. As respostas espirituais muitas vezes não são a solução para as necessidades básicas da vida. É preciso de uma solução adequada a cada desafio. Se Sagitário quer resolver as questões da vida animal com respostas filosóficas e a partir da fé se sente incompreendido e se arrisca a fracassar.

A coragem e o atrevimento sagitarianos nascem do otimismo, da convicção de seus propósitos e do sentimento de ser protegido. Ele ambiciona no mínimo o máximo. É um idealizador por hábito e vocação. Mas muitas vezes suas flechas caem antes de atingir o alvo, pois seus objetivos podem ser superdimensionados e utópicos. A constante e generosa expansão sagitariana se traduz facilmente em dispersão de energia.

Uma vez que elege um objetivo, o sagitariano age inspirado pela fé. E para ele basta ter fé para justificar suas decisões. A fé não exige provas, apenas convicção. Com espontânea credulidade ele se atira em direção ao mestre com uma fé cega, simbolizada pela sombra em seu olho, funcionando como um tapa olho.

Quanto mais o sagitariano fica convencido da própria verdade, menos enxerga com isenção e clareza. A fé de Pedro é uma fortaleza e uma fraqueza ao mesmo tempo. Ela o estimula, mas é também uma defesa contra qualquer coisa que questione ou desminta suas certezas. Está  totalmente absorto e envolvido em direção ao Mestre, objeto de sua veneração, ignorando a balbúrdia dos companheiros, surdo para tudo o que acontece à sua volta.

Pedro denúncia, através de sua expressão compenetrada, que quando o sagitariano estabelece sua prioridade, esquece o resto. Corre o perigo de se tornar dogmático e fechado para outras visões resvalando às vezes para o fanatismo.

Encontrar sentido para ele não é suficiente. É necessário proclamar isso para si e para os outros. É o criador, defensor e propagador de regras. Quando busca influenciar e arrebatar os outros com seus ideais tende a achar que todos têm a mesma honestidade, franqueza e lealdade que ele. Acredita demasiadamente na boa vontade alheia e pode acabar sendo enganado, ludibriado e até explorado. Fica muito decepcionado quando não encontra eco para seus apelos.

Pedro visivelmente espera que João acolha suas ideias. Este não exibe a menor reação. Acata a preleção, mas não a segue e sequer se inclina em direção ao mestre. Pedro continua assim mesmo e não atenta para a reação de quem o escuta. Falar para as paredes e não acolher o interlocutor é um dos erros de comunicação mais frequentes de Sagitário. Mesmo que Pedro esteja apresentando algo brilhante, seu movimento se torna estéril sem a adesão dos outros.

Sagitário tem a mesma necessidade que Gêmeos de contato e troca, mas prefere ser escutado do que escutar. Pode e deve aprender com o signo oposto a dispensar atenção ao entrono de modo a abrir seu leque de possibilidades e maiores chances de sucesso. Mateus (Gêmeos) se coloca disponível ao que possa surgir de um lado ou de outro enquanto Pedro exibe uma atitude claramente independente de tudo que o cerca. Ele se nega a ouvir os que o rodeiam e dá seu recado sem prestar atenção se suas palavras reverberam.

A riqueza e pluralidade de atributos induzem o sagitariano ao sentimento de inadequação. Se corre com os cavalos no campo sente falta de ter com quem conversar. À mesa junto de outras pessoas se sente incômodo na cadeira. Quando está aqui ele quer estar lá e vice-versa. Ele tem a sensação de que há um lugar abstrato aonde ele seria mais adequado. Algo sempre está faltando.

Pedro disfarça a faca negando seu instinto e assume sua meta espiritual. O mesmo instinto que ele esconde agora é o que o levará a negar o Cristo por três vezes. Só quando Sagitário aprende a elaborar suas qualidades sem negar suas fontes, ele alcança a evolução integrando todas as suas dimensões. Ele passa a representar a capacidade de se sair bem em todo tipo de situação e pode usufruir de intimidade com diferentes culturas e universos.

Certamente Pedro foi uma das mais fáceis escolhas para Da Vinci. Sua biografia poderia merecer um estudo à parte do temperamento sagitariano. Ter sido escolhido como ‘pedra  fundamental da Igreja’ já é motivo suficiente para associá-lo ao signo relacionado aos fundamentos filosóficos da vida espiritual.

 

André – Capricórnio

A PRUDÊNCIA E A RESPONSABILIDADE

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André representa Capricórnio. As mãos voltadas para frente sinalizam um pedido de cautela diante do que lhe sugere Tiago Maior (Aquário). A cautela e uma cuidadosa avaliação dos fatos estão entre as características mais marcantes de Capricórnio.

As mãos freando o que chega, o olhar lateral, o queixo e o rosto retraídos reforçam a mensagem de desconfiança e o medo do novo.

O senso prático do capricorniano o leva a querer examinar e testar tudo antes de qualquer decisão ou atitude. Conservador e reservado ele não está nada à vontade com a agitação da mesa à sua volta.

A cautela de Capricórnio visa a criar alicerces e bases concretas para apoiar suas atitudes.

Os dedos bem separados significam que tudo é registrado, nomeado e classificado. Ele busca se apoiar em referências incontestáveis. A coluna ereta é típica de quem deseja estabilidade e firmeza para se posicionar. Por necessidade de segurança, com seu gesto, André pede calma.

Regido por Saturno, tudo o que envolve Capricórnio tem, de alguma forma relação com o tempo.

Quando pede uma pausa com as mãos, ele está ganhando tempo para se programar, organizar e estruturar o que tem a dizer e como vai agir de forma sustentável.

Da Vinci retrata a cabeça de André sem cabelos e iluminada a fim de realçar a racionalidade típica do signo. Veja o contraste entre Filipe (Câncer) com as mãos voltadas para dentro sinalizando que define a sua posição a partir do que sente. André com as mãos voltadas para fora, equaciona as coisas à sua volta a partir do que pensa, longe do peito para que o julgamento não venha do sentimento, mas da razão.

Capricórnio representa a maturidade. Da Vinci o pintou André careca e com fisionomia envelhecida.

Capricornianos, de um modo geral, amadurecem precocemente. Muito cedo tomam consciência de seus limites e se tornam responsáveis.

O ar sério e receoso transmite confiabilidade. Sua expressão austera vem da preocupação em cumprir os compromissos que assume. A face seca e o lábio firme sugerem a obstinação no cumprimento de seus deveres. O empenho em concentrar energia e atenção em tudo o que faz. Ordem e estrutura para garantir as condições e a continuidade do trabalho.

A coluna reta de André denota persistência, perseverança e disciplina enquanto a face se reveste de determinação inabalável.

O Capricórnio é silencioso em seu processo. A indisponibilidade André com os companheiros surge da vocação do signo para trabalhar discretamente e focar no que tem a fazer. A atitude contida demonstra por outro lado uma capacidade excepcional de agir em condições adversas, experimentar privações e solucionar grandes dificuldades.

Seu canto da boca marcadamente voltado para baixo indica um caráter que não se constrói de um  dia para outro. Sua estabilidade não é recente. Foi construída por anos de incansável luta para se assegurar de que possui as condições necessárias para fazer a sua parte.

André não disfarça sua seriedade, leva as coisas mais a sério do que é necessário. Geralmente é o próprio capricorniano que torna seu caminho mais penoso. Ele tem um certo gosto pela dificuldade, como se o peso das situações o ancorasse no mundo e desse a ele uma sensação de pertencimento. O capricorniano coleciona obrigações como uma forma de se sentir útil e inserido no jogo social.

A palavra solidez tem a mesma raiz de solidão. Capricórnio se isola para evitar ameaças a sua consistência, sua expressão áspera não se deixa envolver.

Capricórnio é logado ao simbolismo do meio-dia, quando o Sol está no alto e tudo é dado a conhecer. Franco, não gosta que lhe escondam nada. É avesso a mentiras, meias verdades e dissimulações. Seu ideal é ser claro e exato na troca com o outro. Ele tem necessidade e capacidade de colocar as coisas de forma simples, concisa e explícita.

A cabeça de André torcida para cima e o rosto virado para o lado oposto a Tiago Maior (Aquário) denunciam o seu incômodo com a proximidade do companheiro. Ele se resguarda e reage defensivamente à abordagem fraterna. Por coragem ou medo ele inventa uma solidão interna para si mesmo. A intimidade enfraquece as fronteiras com o parceiro e Capricórnio receia que ela torne a distinção de papéis nebulosa. Ele teme a perda de identidade e a aproximação pelo perigo de depois não conseguir se afastar, vínculos e dependência podem vulnerabiliza-lo. A grande questão de Capricórnio é como trocar a atitude orientada pelo medo por uma outra escolhida pela inteligência.

 

Tiago Maior – Aquário

LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE

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Da Vinci pintou Tiago Maior envolvendo André com o braço para representar Aquário o signo da amizade e da fraternidade. A mão horizontal apontando para os companheiros à esquerda expressa o anseio aquariano de reconhecer a todos como iguais.

Tiago se esconde atrás de André para preservar sua autonomia e sua liberdade – o valor máximo de Aquário. Ele cede espaço para seus companheiros. Espremido entre André e Bartolomeu, ele não reivindica uma área para si, mas cede ao que tem direito sem alarde. O aquariano não reivindica espaço pessoal, pois sente-se ocupando o espaço universal. Não gosta de brigar por coisas pequenas e particularidades.

Tiago Maior olha o todo como quem busca uma identidade coletiva e uma afinidade essencial com o grupo. Diferente de Tiago Menor, o leonino que se esforça para se destacar, o aquariano se encolhe, e procura não aparecer mais do que os outros. Da Vinci o retratou retraído e moderado, compartilhando suas ideias com o companheiro, como alguém que convence pelo argumento e não pela força.  Protegido atrás de André ele se porta como um observador arguto e anônimo.

Aquário, com sua necessidade de ser livre, tem dificuldade de se submeter a uma ordem geral. Urano, seu regente, funciona com movimentos próprios e diferentes dos demais planetas do sistema solar. Tem duas Luas que giram em sentido contrário. Da mesma maneira, Tiago quer ser independente, ele se mantém indiferente às reações dramáticas dos outros apóstolos. Ele sabe que para um grupo funcionar é preciso não só um centro, um líder, mas também pessoas comuns. Se todos quiserem ser especiais tal qual Leão, não vai haver nunca um grupo, mas sim brigas e disputas.

Tiago assiste de fora o ‘teatro’ que se estabelece na mesa com as diferentes versões e reações sobre a notícia de que havia entre eles um traidor. Ele prefere observar de fora as diferentes dinâmicas, se espreitando, camuflado atrás de André. Sob outra ótica, sem se identificar com nenhum outro em particular. Avesso às estruturas definidas se mantém como uma peça não encaixada no jogo de reações emocionais.

Quem se sente marginalizado desenvolve uma simpatia natural por excluídos. Sua tendência é mais a de encontrar um lugar para o diferente do que condená-lo. Tiago tem uma das mãos na horizontal e outra na vertical representando a pluralidade de realidades que habitam o aquariano, lembrando que pode haver convivência entre movimentos divergentes. Ao colocar uma mão no ombro de André e a outra no de Pedro, ele busca uma aproximação e união entre pessoas que agem de maneira diferente.

Ele tem um olhar difuso que não é dirigido a ninguém em particular, mas que engloba a todos. Um olhar que sugere interesse nas diversas proposições, mas que não se atém exclusivamente a nenhum deles. Ele não desconsidera ninguém. Sabe que pode somar elementos divergentes e alcançar uma visão mais lúcida e inteligente da situação.

Tiago lança sua mão na direção geral porque deseja que não haja ninguém melhor do que ninguém e muito menos insubstituível. Ele não subestima nenhuma inteligência. Não se sabe qual vai ser útil e necessária a qualquer momento.

O braço de Tiago envolvendo André fraterno e camarada traduz a inclinação do signo por grupos, comunidades e associações com interesses comuns. Aquário é o conspirador no melhor dos sentidos.

Ele entusiasma e convida a todos a avançar e progredir. Embora ele confidencie em particular com André, ele sustenta o olhar para a outra ponta da mesa e até para além dela. Enquanto se comunica com o entorno, o aquariano está sempre vendo mais longe, vislumbrando perspectivas mais abrangentes.

Aquário é o signo da rebeldia. Não é contra ninguém, mas sim a favor de seus próprias ideais.

Gosta de fomentar suas ideias, mas quer ficar incógnito observando a revolução se desencadear sem se expor.

O abraço lateral é um gesto tipicamente fraterno. Deixa o outro à vontade. Tiago quer envolver André, mas não o força, coage ou constrange. Aquarianos não gostam de imposições. Concede ao outro o direito de decidir se e como usa a informação que recebe. Faz o seu papel de disseminador de ideias, mas não exige fidelidade às suas crenças e convicções. Para ele cada um é senhor de si.

O aquariano às vezes explode no meio da calmaria, mas é capaz de manter a calma no auge da crise. Tiago está manso como se o que está acontecendo fosse normal. Faz parte do estilo aquariano tratar a mudança como algo natural.

A energia dos apóstolos emana em sentidos e direções diferentes. Esta aparente desordem faz com que o aquariano se sinta livre para também tomar a direção que quiser. Aquarianos muitas vezes deixam de se posicionar para não atrapalhar a espontaneidade reinante.

A criatividade é um tema fundamental na dinâmica aquariana. É dela que surge o enorme talento para lidar com o inesperado e o inspira a lançar novos comportamentos e ideias.

Da Vinci retratou Tiago com dedos delicados, longos e nervosos. Esse tipo de mão em geral é o das pessoas ‘elétricas’ e sensitivas, com atenção dispersa e voltadas para qualidades mais sutis do ambiente.

O nome Tiago vem de Sant Iago. Iago vem de Jacob que tem dois significados. ‘Aquele que vence e suplanta’ e ‘O calcanhar de Deus’.

Da Vinci reservou aos dois apóstolos que têm esse nome os signos opostos de Leão e Aquário.

Aquário rege no corpo o tornozelo e o calcanhar. No mito de Aquiles o calcanhar é o ponto vulnerável, do combatente invencível. Assim é Aquário ao buscar brechas e vulnerabilidades em todas as estruturas fechadas e detentoras de  poder.

 

Bartolomeu – Peixes

A EXPERIÊNCIA DO TODO

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De pé, ocupando a extremidade esquerda da mesa, Bartolomeu representa Peixes. Ele assiste a tudo de cima e de fora. Sua visão é ampla e parece pairar acima dos ânimos inquietos. No seu olhar meditativo transparece a lucidez de quem possui uma visão para além dos fatos e pretende um entendimento limitado do momento. Ao invés de apontar saídas para o impasse, Bartolomeu age como se quisesse decifrar o que acontece, sem arriscar nenhuma solução concreta.

O pisciano facilmente sacrifica seu direito de se posicionar. Sua crença é de ter vindo ao mundo apenas para compreender e nutre a esperança de que as coisas se resolvam sozinhas.

Seu olhar paciente é de alguém afeito  à reflexão e a interioridade. Sua falta de atitude sugere a pouca ambição mundana do pisciano.

Bartolomeu age como se fosse de um universo paralelo mais elevado e inalterável.

Um dilema fundamental de Peixes é possuir o entendimento incomum dos fatos, mas sem a devida vocação para colocar a mão na massa e transformá-los.

Bartolomeu tem a conduta mais passiva de todo o grupo. Suas mãos estão apenas a serviço de sustentar o próprio corpo. A mão direita, das atitudes práticas, está recuada, introvertida e sem energia, com os dedos descansando, pendurados e inativos. Não há muito sentido na prerrogativa de uma visão panorâmica, se ele não puder lançar mão do seu direito de influir na cena. O olhar complacente de Bartolomeu é de quem permite que as coisas fiquem à deriva o que pode levar à falta de objetivo e de objetividade.

Bartolomeu aparenta ter encontrado seu sossego em seu interior e inventa para si uma atmosfera de menos pressão. Ele se dissolve evitando criar atritos ou ferir-se. Sua suposta inoperância lhe garante conforto e quietude particulares e lhe permite navegar ileso entre as emoções e idéias conturbadas da mesa. Ele contempla como quem acha inútil falar, ou como quem acha impossível encontrar palavras ou gestos que exprimam o que sente. Embora aparente notar algo relevante, ele se cala em relação ao que sente. A suavidade e a delicadeza de Bartolomeu sugerem uma entrega sutil. O que percebe não pode provar nem para si nem para o os outros

O silêncio pisciano costuma ser interpretado como ausência, mas na verdade advém de um fino discernimento, em geral pouco compreendido pelos outros.

Bartolomeu deixa no ar a dúvida se está a favor ou contra a qualquer coisa que está acontecendo. É quem menos demonstra o que pensa e sente. Não emite opinião e nada propõe, não toma partido. Seu silêncio já é uma resposta assim como a não ação de Peixes muitas vezes visa um  resultado.

É falsa a conclusão de que o pisciano está ausente. Ele está sentindo tudo. E é esse espaço do sentir que ele quer preservar quando ele se passa por indiferente.

Para proteger sua visão intuitiva da crítica, Bartolomeu se esconde atrás do seu sorriso enigmático. Ele está mais atento ao que dizem seus próprios sentimentos, do que falam, esbravejam ou sussurram os outros apóstolos.

Para Peixes as coisas não vistas ou não manifestas contam muito. Como o oceano que espelha as constelações e as reconhece em suas próprias águas, o pisciano vê todos os outros signos dentro de si. Sentindo cada apóstolo como um semelhante, como cobrar que ajam diferente? Criticá-los seria criticar a si próprio. O olhar tolerante de Bartolomeu paira entre os companheiros, alheio às divergências e compreendendo algo de essencial e comum a todos eles. Talvez seja o único olhar desprovido de reprovação e expressa o estilo pisciano afetuoso e sem julgamento.

Como representante do signo do amor universal e incondicional, Bartolomeu não dirige atenção a alguém em particular, mas dilui sua afetividade entre todos. Além de não impor sua opinião, olha com curiosidade de quem deseja aprender com o que está acontecendo. Peixes é mestre não só na arte de aceitar as coisas como são como também de aprender com a adversidade.

Usa a aceitação também como estratégia para alcançar a paz e a serenidade. Se olharmos apenas para o rosto de Bartolomeu, destacado do resto, tem-se a impressão de que nada grave aconteceu.

A compaixão também está presente em seu olhar. O interesse por cada companheiro mostra que se importa com a aflição e o sofrimento alheio, como se fosse dele próprio.

Bartolomeu é o único dos apóstolos a ter os pés pintados por Da Vinci. Os pés são regidos por Peixes e significam a ligação com a Terra e com toda a espiritualidade. São a parte do corpo mais longe da cabeça simbolizando a enorme distância entre a mente e a sensibilidade. Por último, mas não menos importante os pés são também o símbolo da humildade.

Peixes é um signo de imaginação muito ativa e fácil vítima da ilusão. A partir de cenas externas ele cria imagens internas e não raro se perde em fantasias e suposições.

A figura de Bartolomeu, de pé tem a dinâmica horizontal e vertical. A águia e o peixe têm ambos a  capacidade de se moverem em ambas direções e isso os possibilita enxergar as coisas por diversos ângulos. Enxergando diferentes perspectivas, os piscianos são capazes de mudar de ponto de vista com surpreendente rapidez. Veem assim de maneira abrangente e ampla o que outros muitas vezes não veem.

Bartolomeu está na pintura como quem busca dissolver as diferentes particularidades de cada apóstolo e enxergar a situação como um todo.

Bartolomeu foi o último dentre os apóstolos a se incorporar aos discípulos. Jesus disse, ‘Eis aí um verdadeiro israelita em quem não há maldade ou fingimento’.

 

Com amor,
Maura